segunda-feira, 20 de outubro de 2014

Texto: O caso do espelho


Era um homem que não sabia quase nada. Morava longe, numa casinha de sapé esquecida nos cafundós da mata.

Um dia, precisando ir à cidade, passou em frente a uma loja e viu um espelho pendurado do lado de fora. O homem abriu a boca. Apertou os olhos. Depois gritou, com o espelho nas mãos:

- Mas o que é que o retrato de meu pai está fazendo aqui?

- Isso é um espelho - explicou o dono da loja.

- Não sei se é espelho ou se não é, só sei que é o retrato do meu pai.

Os olhos do homem ficaram molhados.

- O senhor... conheceu meu pai? - perguntou ele ao comerciante.

O dono da loja sorriu. Explicou de novo. Aquilo era só um espelho comum, desses de vidro e moldura de madeira.

- É não! - respondeu o outro. - Isso é o retrato do meu pai. É ele, sim! Olha o rosto dele. Olha a testa. E o cabelo? E o nariz? E aquele sorriso meio sem jeito?

O homem quis saber o preço. O comerciante sacudiu os ombros e vendeu o espelho, baratinho

Naquele dia, o homem que não sabia quase nada entrou em casa todo contente. Guardou, cuidadoso, o espelho embrulhado na gaveta da penteadeira.

A mulher ficou só olhando.

No outro dia, esperou o marido sair para trabalhar e correu para o quarto. Abrindo a gaveta da penteadeira, desembrulhou o espelho, olhou e deu um passo atrás. Fez o sinal da cruz tapando a boca com as mãos. Em seguida, guardou o espelho na gaveta e saiu chorando.

- Ah, meu Deus! - gritava ela desnorteada. - É o retrato de outra mulher! Meu marido não gosta mais de mim! A outra é linda demais! Que olhos bonitos! Que cabeleira solta! Que pele macia! A diaba é mil vezes mais bonita e mais moça do que eu!

- Quando o homem voltou, no fim do dia, achou a casa toda desarrumada. A mulher, chorando sentada no chão, não tinha feito nem a comida.

- Que foi isso, mulher?

- Ah, seu traidor de uma figa! Quem é aquela jararaca lá no retrato?

- Que retrato? - perguntou o marido, surpreso.

- Aquele mesmo que você escondeu na gaveta da penteadeira!

O homem não estava entendendo nada.

- Mas aquilo é o retrato do meu pai! Indignada, a mulher colocou as mãos no peito:

- Cachorro sem-vergonha, miserável! Pensa que eu não sei a diferença entre um velho lazarento e uma jabiraca safada e horrorosa?

A discussão fervia feito água na chaleira.

- Velho lazarento coisa nenhuma! - gritou o homem, ofendido.

A mãe da moça morava perto, escutou a gritaria e veio ver o que estava acontecendo. Encontrou a filha chorando feito criança que se perdeu e não consegue mais voltar pra casa.

- Que é isso, menina?

- Aquele cafajeste arranjou outra!

- Ela ficou maluca - berrou o homem, de cara amarrada.

- Ontem eu vi ele escondendo um pacote na gaveta lá do quarto, mãe! Hoje, depois que ele saiu, fui ver o que era. Tá lá! É o retrato de outra mulher!

A boa senhora resolveu, ela mesma, verificar o tal retrato.

Entrando no quarto, abriu a gaveta, desembrulhou o pacote e espiou. Arregalou os olhos. Olhou de novo. Soltou uma sonora gargalhada.

- Só se for o retrato da bisavó dele! A tal fulana é a coisa mais enrugada, feia, velha, cacarenta, murcha, arruinada, desengonçada, capenga, careca, caduca, torta e desdentada que eu já vi até hoje!

E completou, feliz, abraçando a filha:

- Fica tranquila. A bruaca do retrato já está com os dois pés na cova!

Conto popular recontado por Ricardo Azevedo

 

 

Orações Subordinadas Adverbiais


1-      Classifique as orações subordinadas adverbiais em: causais, concessivas, condicionais, finais, temporais, consecutivas, comparativas, conformativas e proporcionais.

a)      Não foi ao baile porque não tinha dinheiro.

b)      Embora estivesse doente, trabalhava muito.

c)      Tudo vale a pena/ Se a alma não é pequena. (F. Pessoa)  

d)      Trouxe o sapato e o traje para que ele experimente.

e)      Sempre que você vem, ela prepara a casa.

f)       Falou tanto que ficou sem voz.

g)      Ela era mais bonita do que a irmã.

h)     Tomou a medicação conforme o prescrito.

i)        À proporção que o tempo passa, tudo vai voltando ao normal.
j)        Como estava tarde não pude esperá-lo.

k)      Apesar de terem treinado muito, não venceram a competição.

l)        Se você estivesse lá, nada disso teria acontecido.
m)    Fiz tudo para que você voltasse.
n)      Assim que mudar a estação, sairei de férias.
o)      Argumentou brilhantemente, de tal forma que não ficou ninguém sem ser convencido. (
p)     Você desenha tão bem quanto eu.

q)      Segundo fui informada, o show foi cancelado.
r)      Quanto mais falava, mais se confundia.
s)      Vamos acender a lareira, que a noite está muito fria.
t)       Mesmo estando muito atarefado, ele foi ao passeio.
u)      Caso você venha, deixarei a chave na portaria.
v)      Vigiai e orai, porque não entreis em tentação.
w)    Quando você voltar, estarei de braços abertos. . .
x)      Deus, ó Deus, onde estás que não respondes?
y)      Escreve tão bem quanto lê.
z)      A redação deve ser redigida consoante a norma culta da língua portuguesa.


 

 

 

 

domingo, 19 de outubro de 2014

Pontuação/Reescrita


       Reescreva o texto abaixo, utilizando a pontuação própria dos diálogos.
 Faça os parágrafos adequadamente.

 Paulinho empinou papagaio a tarde toda  e esqueceu de fazer a lição na sala de aula saiu-se com esta professora sim Paulinho o que foi alguém pode ser castigado pelo que não fez evidentemente que não por quê é é porque eu não fiz os deveres de casa

 

Leitura Dramatizada


                                       Texto: NO BOTEQUIM (Jô Soares)


FREGUÊS - Garçom, por favor. Eu queria um café com leite e uma rosquinha.
GARÇOM - O senhor vai me desculpar, mas não tem mais rosquinha.
FREGUÊS - Ah? Não tem rosquinha?
GARÇOM - Não Senhor.
FREGUÊS - Não faz mal. Então me dá só um cafezinho simples. Isso. Só um cafezinho. (pausa) Com uma rosquinha.
GARÇOM - Eu acho que não expliquei direito. Eu falei pro senhor que não tem mais rosquinha. Acabou toda a rosquinha.
FREGUÊS - Ah bom. Se for assim, muda tudo. Acabou a rosquinha?
GARÇOM - Acabou sim senhor
FREGUÊS - Então me traz um copinho de leite. Leite tem?
GARÇOM - Tem sim senhor.
FREGUÊS - Beleza. Traz-me um copo de leite. Com uma rosquinha.
GARÇOM - Eu disse que não tem mais rosquinha! Torrada tem rosquinha não tem. Há três anos que não tem rosquinha!
FREGUÊS - Calma, o senhor também não precisa ficar nervoso. Não tem, não tem. Eu peço outra coisa. Qualquer coisa. Eu não sou difícil pra comer. Eu tomo o que o senhor quiser. Chocolate, chá, sei lá. Chá o senhor tem?
GARÇOM - Tenho sim senhor.
FREGUÊS - Então taí. Traz um chazinho. (pausa). Com uma rosquinha.
GARÇOM - Eu já disse que não tenho rosquinha. Faz o seguinte. Vai a outro boteco. Mas não me enlouquece... Vai a outro boteco.
FREGUÊS - Não, pode deixar. Vamos mudar tudo. O que eu não quero é que o senhor se aborreça. Em vez disso me dá uma coisa que me alimente mais. Totalmente diferente. Uma coalhada. Taí. Uma coalhada. Coalhada tem?
GARÇOM - Tem.
FREGUÊS - Tem mesmo?
GARÇOM - Tem.
FREGUÊS - Vê lá, hein? Não vai me fazer mudar de pedido de novo à toa.
GARÇOM - Eu já disse que tem! O senhor vai querer ou não?!
FREGUÊS - Vou querer ou não, o quê?
GARÇOM - A coalhada!
FREGUÊS - Claro que sim. Acho ótimo. Uma coalhada. (pausa) Mas não se esquece da rosquinha.
GARÇOM - O senhor é maluco, é? Não tem rosquinha! Não tem rosquinha!
FREGUÊS - Tá bom, tá bom. Não precisa gritar. Traz só a rosquinha, pronto.
FREGUÊS 2
(que está na mesa ao lado) - Escuta aqui. O senhor quer enlouquecer o garçom, é? Há dez minutos que eu estou ouvindo essa conversa doida e eu juro que não sei como ele está aguentando! (Para o Garçom) Olha, não liga pra esse maluco não. Traz logo essa porcaria dessa rosquinha e manda ele embora.

                                                                                                                                 Jô Soares. Revista Veja.
                                                                                                                              São Paulo, Abril de 1992